Após alguns anos organizando suas intrigas, ele dispunha de um serviço poderoso e eficaz e resolveu sair aos poucos da clandestinidade. Por conveniência buscou uma poderosa proteção para substituir Redwan. O vizir Tahir al-Mazdaghani, entendeu-se com Bahram, apesar de não pertencer à seita, veio em seu socorro para auxiliar na conspiração assassina.
Mesmo com a morte de Hassan as-Shabab, na sua fortaleza em Alamut, em 1124, a atividade dos seus adeptos cresceu. O assassinato de Ibn al-Khachab não foi um fato isolado. Um ano antes desta morte, outro importante líder da resistência contra os francos, o cádi dos cádis de Bagdá, esplendor do Islã, Abu Saad al-Harawi, foi atacado por batinis na Grande Mesquita de Hamadhan. Eles o mataram a punhaladas, depois escaparam, sem deixar indícios ou rastros, e sem que ninguém fosse em sua perseguição, tão grande era o terror que espalhavam entre o povo. O crime causou revolta em Damasco entre os fiéis, onde al-Harawi viveu muitos anos. Entre os cléricos a hostilidade contra os Assassinos cresceu. Os melhores entre os crentes temiam se manifestar tal era o grau do perigo. Os batinis passaram a eliminar quem lhes opunham e apoiar quem aprovava seus desmandos. Ninguém mais ousava censurá-los em público, nem emir, nem vizir, nem sultão!
Em 26 de novembro de 1126, al-Borsoki, o poderoso senhor de Alepo e Mossul sofre com a terrível vingança dos Assassinos.
Conta Ibn al-Qalanissi: “E no entanto o emir estava vigilante. Ele trazia uma armadura de malhas onde não podia penetrar a lâmina do punhal nem a ponta do sabre e cercava-se de soldados armados até os dentes. Mas o cumprimento do destino não pode ser evitado. Al-Borsoki fora, como de hábito, à Grande Mesquita de Mossul, para cumprir sua obrigação de sexta-feira. Os fascínoras lá estavam vestidos à maneira dos sufis, rezando num canto sem despertar nenhuma suspeita. Repentinamente pularam sobre ele e lhe deram vários golpes sem conseguir furar sua cota de malhas. Quando os batinis viram que os punhais não tinham efeito sobre o emir, um deles gritou: ‘Golpeiem em cima, na cabeça!’. Com seus golpes, eles o atingiram na garganta e feriram-na rasgando-lhe o pescoço. Al-Borsoki morreu como um mártir e seus assassinos foram executados”.
A ameaça do terror corroia as estruturas do mundo islâmico num momento em que este necessitava toda a sua energia para fazer frente aos invasores do Ocidente. Logo após a morte de Al-Borsoki, seu filho assume o poder e é também assassinado. Em Alepo, quatro emires disputam o controle da cidade e Ibn al-Khachab não mais existe para manter a coesão do estado. No outono de 1127, enquanto a anarquia imperava na cidade, os francos postam suas forças em volta das muralhas. Em Antioquia reinava o jovem filho de Bohémond, um gigante louro que chegou de sua terra para reivindicar as posses conquistadas pelo pai. Ele tinha o mesmo nome que o pai e principalmente o mesmo caráter bárbaro do antecessor. Os alepinos pagaram tributo para evitar o pior e os mais derrotistas já imaginavam que mais cedo ou mais tarde ele acabaria virando o seu futuro soberano.
Em Damasco a situação não era melhor. O velho e doente atabeg Toghtekin não exercia controle algum sobre os Assasssinos. Eles criaram milícias armadas, a administração do reino estava em suas mãos, o vizir Mazdhagani era um adepto da seita devotado de corpo e alma, mantinha estreitos contatos com os inimigos do Islã em Jerusalém. Da parte dos invasores francos, Baudoin II não mais escondia seu interesse de coroar sua carreira de conquistador com a tomada de Damasco. Sómente a presença do velho Toghtekin ainda impedia que os Assassinos entregassem a cidade aos francos. O tempo estava se escoando rapidamente para os damascenos. No início de 1128, o velho atabeg já era uma sombra do homem que tinha sido, emagreceu a olhos vistos e não mais conseguia se levantar. Em volta de seu leito as intrigas corriam soltas. Seu filho Buri foi designado como seu sucessor. O corpo cansado do atabeg foi sepultado em 12 de fevereiro. Para os habitantes da cidade a queda de Damasco era apenas uma questão de tempo.
Para Ibn al-Athir não se tratava de uma mera disputa pelo poder, mas de salvar a metrópole síria das mãos dos invasores. “Al-Mazdhagani escrevera aos francos para propor entregar-lhes Damasco se eles aceitassem ceder-lhe em troca a cidade de Tiro. O acordo estava concluído. Haviam até combinado um dia, uma sexta-feira”. O plano seria coordenado a partir da chegada inesperada das tropas de Baudoin II aos pés das muralhas de Damasco. As portas da cidade estariam abertas e sob controle de Assassinos armados, enquanto outros comandos estariam encarregados de guardar os acessos à Grande Mesquita para impedir que os dignatários e comandantes militares pudessem sair até sua completa ocupação pelos francos. A razão dessa traição segundo o cronista seria motivada pelo sentimento de insegurança crescente dos batinis em Damasco. Os Assassinos e seu aliado al-Mazdaghani sentiam-se ameaçados e hostilizados pelos seus residentes e pelos aliados de Buri, o sucessor do atabeg. Também conheciam as idéias dos francos em dominar a cidade a todo o custo. Preferiram com a troca colocar seus adeptos em condições de a partir do porto de Tiro enviar seus pregadores e matadores para o Egito fatímida, seu objetivo inicial estabelecido por Hassan as-Sabbah.
Lembrando um século depois estes acontecimentos Ibn al-Athir escreveu:
“Com a morte de Toghtekin desaparecia o ultimo homem capaz de enfrentar os franj. Estes pareciam então em condições de ocupar a Síria toda. Mas Deus, na sua infinita bondade, teve piedade dos muçulmanos”.
“O vizir al-Mazdaghani se apresentou, como fazia diariamente, no salão das rosas, no palácio da cidadela, em Damasco”. Contou Ibn al-Qalanissi. “Estavam lá todos os emires e chefes militares. A assembléia tratou de vários assuntos. O senhor da cidade, Buri, filho de Toghtekin, trocou pontos de vista com os presentes, depois cada um se levantou para voltar para sua casa. Segundo o costume, o vizir devia partir após todos os outros. Quando ele se pôs de pé, Buri fez um sinal para um de seus companheiros e este golpeou al-Mazdhagani várias vezes com o sabre na cabeça. Depois ele foi decapitado e seu corpo foi levado em dois pedaços até a porta de ferro, para que todo mundo pudesse ver o que Deus faz com aqueles que se valeram da falsidade”.
Logo a notícia se espalhou pelo mercado, em seguida uma caçada teve começo. Imensa multidão erguendo espadas e punhais se espalha pelas ruas da cidade. Todos os batinis, seus parentes, amigos, assim como os suspeitos de terem simpatias por eles foram perseguidos em suas casas e sem piedade foram degolados. Seus mestres foram crucificados nas ameias das muralhas. Vários membros da família de Ibn al-Qalanissi tomaram parte ativa nos acontecimentos. Pode-se imaginar que este cronista com 57 anos na época e que ocupava uma alta posição no estado, junto com a população, talvez tenha feito parte no justiciamento. Seu tom iria revelar muito quanto ao seu estado de espírito: “De manhã, as praças estavam livres dos batinis e os cães uivantes disputavam seus cadáveres”.
Os acontecimentos posteriores deram crédito à tese da conspiração da seita. Seus poucos sobreviventes ao massacre em Damasco buscaram refúgio na Palestina, e proteção junto a Baudoin II, recebendo dele Banias, uma poderosa fortaleza situada ao pé do monte Hermon e que controlava a estrada que ligava Jerusalém a Damasco. Algumas semanas mais tarde, um poderoso exército franco marchou em direção à metrópole síria. Reúnia cerca de 10 mil cavaleiros e infantes, vindos não só da Palestina, mas também de Antióquia, Edessa, Trípoli, assim como reforços oriundos de Europa e que proclamavam bem alto suas intenções de tomar Damasco.