Project Gutenberg's Trovas Inedìtas de Bandarra, by Gonçalo Anes Bandarra
Title: Trovas Inedìtas de Bandarra
Author: Gonçalo Anes Bandarra
Release Date: May 21, 2007 [EBook #21545]
Quarta parte das Trovas de Bandarra.
1.
Os tempos com crueldadeComeçar-se hão a mover,Se me não engana a verdadeAli perderão seo serNo meio de certa idade.
2.
Virà gozando de pazAquelle pastor valente,Hum lobo que guerra fazMoverà toda a genteCom huma limgua sagaz.
3.
Logo nas mãos o pastorSeu cajado tomarà,Sem mostrar nenhum temorContra os lobos que acharáRevestidos de rigor.
4.
Nelles farà tal destroçoQue serà couza de espanto,Como bravo Touro em cossoLogo perde tudo quantoTinha como pastor moço.
5.
Jà vejo que se desterraEste pastor sem ventura,Da patria rebanho, e terraA huma larga SepulturaDe huma frondoza serra.
6.
O manço gàdo que em pázPella ribeira regia,Jà desgovernàdo trazTriste sò sem companhia,Que hum mào concelho faz.
7.
E logo outro pastorDo pouco gado que achár,Serà absoluto Senhor,E serà em quanto durarA fortuna, e seo rigor.
8.
Serà pastor estrangeiroO que reja o manço gadoQue taõ bravo foi primeiroMas ai que falta o malhadoQue era o principal Carneiro.
9.
De pois que por tempo largoEste pastor governarA este rebanho amargo,Outra vez hà de tornarA ter o que tinha o cargo.
10.
Haverà novos sinaesDa parte deste pastor,Thé os mesmos anímaesPor seu natural SenhorDarão suspiros, e ais.
11.
Tornarà a quebràda linhaNo Cábo de serta idade,A encher-se como pinha,E descubrirà a verdadeDo que encuberto tinha.
12.
Sem pena que damno façaTornarà pella ribeiraPastar o gado na praça,Por ultima, e derradeiraDos fados Supréma traça.
13.
Tornarei a recolherEsta ovelha perdidaA patria que lhe deu ser,E porei por ella a vidaSem nunca desfalecer.
14.
Entaõ não me mudareiPois conheceis que sou vosso,Minha ovelha estimareiPois de outro modo naõ possoAlma, e vida lhe darei.
15.
Haverà em triste CidadeGrande fome peste, e guerra,Que a Escritura a não erraQue em tudo falla verdade,
16.
De longas terras virãoDois Leoens mui asanhádosHum de Cruz, e outro nãoVingarão males paçados.
17.
Serão à força da espadaDestruidas mil provincias,Na Luzitania assolladaTerão fim roubos, e malicias.
18.
Na era de quarenta, é humDe Janeiro por diante,Darà fio ao seo montanteAparelhece cada hum.
19.
O nosso ChristianismoNossa grande Obrigação,Não temos mais de Christão,Do que o nome do Baptismo.
20.
Fazemos dos dias noitesVivendo como agrestes,Haverà castigo, e açoutesCada qual se faça prestes.
21.
Espantozos movimentosHavemos cedo dever,E antes de muitos temposHa de isto de acontecer.
22.
Não haverà em HespanhaLugar preveligiado,Tudo serà assolladoDessa gente de Alemanha.
23.
Todos os lugares planosPor terra serão prostrados,Muitos males, muitos damnosHaverà pellos peceádos.
24.
As Serras se habitarãoE os Oiteiros mais altos,Muitas Gentes sahirãoOutros andarão em Saltos.
25.
Andarão como pasmadosChorando pellos caminhos,De suas terras lançadosDe parentes, e vesinhos.
26.
Então não haverà amigosNem pay que por filho seja,O mais seguro abrigoSerà acolherse à Igreja.
27.
Nesses tempos os meninosAinda que innocentes,Terão tãobem accidentesMuito fora dos Caminhos.
28.
Haverà peregrinaçoensMortes sem conto de dura,Males fogos devisoensSó Deos lhe póde dar cura.
29.
Ha de ser Rey quem fôrQue em Deos está o saberO bom, o São, o melhorSó elle o há de escolher.
30.
Por particular enteresseTem chegado o mundo a tanto,Triste do que lhe pareceQue háde bastar falçomanto.
31.
Os póvos hão de alintarAs culpas dos seos Monarchas,Que sem nenhum estudarSão Letràdos, e Patriarchas.
32.
Nos Ceos haverà sinaesNa Terra não faltarão,Tormentos pennas, e aisQue aos Ceos penetrarão.
33.
E depois do Leão mortoNão sem falta de mistério,Aportarà neste portoOutro com maior Império.
34.
Entrarà com companheiroNa terra dos Luzitannos,Cada qual bom CavalleiroDestruirão os Arriannos.
35.
Tempos traz tempos virãoQue os Grandes serão baixàdosOs pequennos exaltádosPovo, e Rey governarão.
36.
E depois de tantos malesFomes, pestes devisoens,Cheios os montes, e VallesDe tristes peregrinaçõens.
37.
Tornarà o RedemptorA olhar por seo rebanho,E tello ha com muito amanhoComo bom Rey e Senhor.
38.
Escaparà pouca genteDe tão perigoza dança,Virà tempo de bonançaQuem viver serà contente.
39.
Vejo vir grandes baleiasPella costa de BiscayaGaia gaia da vezinha prayaQue lhe tingem as areias.
40.
Eis là contra a NorúegaRaios, Cavallos, Golfinhos,Com que preça que navegaTanta Cópia de Marinhos.
41.
Vejo milhoens de RelampagosTrovoens que rompem os ceosNuvems de mui grandes véosCoriscos grandes expantos.
42.
Que mancebo tão formozoDà Luz a todo o Emisfério,Rosto mui digno de ImpérioForte, fero, e graciozo.
43.
Iá por força toma a SeoraCercàdo de Leoens bravos,Oh que unhas dentes quebrádosTeme, e treme toda a terra.
44.
Mil rapozas vão dìanteBuscando grutas, e côvàs,A Lebres, Coelhos dão novasQue fujão de tal semblante.
45.
Descançame a vista vendoHirse o tempo já chegando,E estarse a Alma alegrandoCom o que vejo, e entendo.
46.
Venha embora o Leão forteDe tantos accompanhádo,Que affirmão, e tem juradoQue em que lhe custe a morteO hão de ver coroado.
47.
Que grandes arribaçoensSão Atums, ou são Sardinhos,Maiores são que BarquinhasSão Náos, boms Galioens.
48.
Parece que seo caminhoHé direito a PortugalAi se eu mal não advinhoNão vão carregar de Sal.
49.
Que rostos, corpos, e armas,Quanto fogo, e quanto asso,No rosto gente do PassoE Soldados nas Bisarmas.
50.
Ora quero-lhe dizerEsta cà occupàda a Terra,Mas poderão responderSe hé gente de paz, ou guerra.
51.
Hé gente que em si encerraE aquillo que diz não faz,Diz guerra, ordena pázPergoa paz, e faz guerra.
52.
O Seo Rey quer ser MonarchaE toda a Terra pertende,Tudo abrange, e tudo abarcaE do díreito não pende.
53.
Vinde cà Rey SoberannoQuero vos dezenganar,Lembro-vos que sois humannoE que tudo hade acabar.
54.
E que na postreira horaQuando o mal jà estìver feito,E não possa ser desfeitoTreme olma, e em vão chora.
55.
Lembre vos o que aconteceoA Tholedo com o payQue já cada hum là vayE não sei qual pa o ceo.
56.
Quereis vòs a PortugalSendo elle nome machoAjuda mal por que lhe achoMuita fémea, e pouco Sal.
57.
Se quizerdes por direitoDeixarse há elle torcer,Mas forçado hé máo geitoPara se deixar vencer.
58.
Vejo vosso damno pertoHireis perdendo o reynádoE tão bem tende por certoMorrerdes desconsolado
59.
Luzitanna hé chamádaA Dama que dezejaés,Ella hé dantes despozadaPerseguilla hé por demais
60.
Ainda que em caza temDe Ulices tantos povos,Hir-se hão como os porcosAnte o Leão que vem.
61.
Esta profecìa hè bellaMui certa e verdadeira,Quem tiver boa terceiraGozarà a Sabia Donzella.
Fim da quarta parte.
Quinta parte das Trovas de Bandarra.
1.
Quando de noite me ponhoA dormir sem me benzer,Tudo o que háde açucederSe me representa em Sonho.
2.
Sempre mandei escreverAquillo que me lembrou,Porque a memoria a postouDe tudo se esquecer.
3.
Nas Trovas que tinha feitoMuito hà que conciderar,Como o seo tempo chegarSe vera o meo conceito.
4.
Sempre por thezoiras façoAs minhas contas mui certas,Portas que hão de estar abertasNão são boas para o paço.
5.
Eu naõ sou Profeta inteiroE menos na minha terra,Mas vejo vir pella SerraAtraz de hum Lobo hum Cordeiro.
6.
O Sol pello meio diaFaz o effeito de Geada,Vejo partir huma armadaCarregáda de agua fria.
7.
Huma grande tempestadeCom o céo muiclaro, e Serenno,Farà hum hommem morenoCom rezão mas sem piedade.
8.
A minha trepeça temTrez péz mui bem seguros,Vejo fabricar hums murosMas eu naõ sei para quem.
9.
Quem muitos annos durarHade ver couzas indignas.Tocar-se haõ muitas bozinasPor hommems peixes do már.
10.
Todo o mundo grita, e berraCada qual no seo officio,Pois antes que hum beneficio,Querem, peste, fome, e guerra.
11.
Quando furo com a SuvellaCoiro groço, e Macio,Vejo prender no RocioQuaze toda a parentella.
12.
Eu tenho medo da morteComo couza superior,O Presbitero maiorNaõ háde tornar à Corte.
13.
Annos hãode vir à terraEm que por nossos peccados,Nas cazas fiquem os gadosAs gentes vivaõ na Serra.
14.
Sempre como os meos feijoensQuando vem bem temperados,Vejo no templo os CopadosNo Cural os Cappellaens.
15.
Sou Sapateiro, mas NobreCom mui pouco Cabedal,E tu triste PortugalQuando mais rico, mais pobre.
16.
O (A) que ponho às avessasCom a perna atraz levantáda,Hàde ter a mão armàdaPara degollar Cabeças.
17.
Quando a terra dos FalcoensCerta erva produzir,Creio se hàde conceguirO deitar fóra as Lezoens.
18.
De hum brazeiro mui acezoDamdolhe o vento ligeiro,Se hàde formar hum pinheiroSem ter medida, nem pezo.
19.
O Carro que vai chiandoPor hir muito carregàdo,Sim mostra o jugo pezadoMas naõ tira pezo andando.
20.
A Hortela na PanellaDizem que lhe dà bom gosto,Essa mulher de bom rostoNaõ ouço rusnar bem della.
21.
Hespanha muito medrozaA Europa muito enfadada,Huma mulher de almofadaSabe como huma rapoza.
22.
As linhas com que coziaJà naõ como as de agora,Temo que se deite fóraQuem Souber a Ave Maria.
23.
Na era que eu tenho dittoNas Thezoiras levantadas,Se haõde ver muitas jornàdasÁ custa do Saõ Benito.
24.
Naõ pode haver couza boaAonde Habita o mal Francez,Temo o polho PortuguezEm poder de huma Leoa.
25.
Quando o Leaõ HispanholVier quase a Portugal,Háde ser o nosso malQuerer luzir como o Sol.
26.
Quando a neve como brazaTodas as plantas queimar,Dous quintos se haõ de ajuntarSem haver jogo na caza.
27.
Em hum lugar mais amenoCercados de mares groços,Vive por peccados nossosQuem se sustenta com feno.
28.
Sempre vem de monte, a monteAs agoas das enxorradas,E vejo testas coroadasSentadas sobre huma ponte.
29.
Quando tiverem por certoPerdida toda a esperança,Portugal terá bonançaNa vinda do Encuberto.
30.
Vejo vir pello mar largoComo quem vem para dentro,Hum hommem buscar seo centroDepois de hum grande lethargo.
31.
Quando me matar S. JorgeE Marcos me reçuscitar,Saõ Joaõ me exaltarFaça todo o mundo alforge.
32.
Os pez da minha trepéçaConta trez vezes areio,Ajuntalhe dous, e meioDizelhe que apareça.
33.
Naõ podeis fazer queixumeDe deixar o vosso lár,Que se do norte ventarDo Sul vos virà o lume.
34.
Vejo a grifa parideiraJuntada com huma Serpente,E vejo que muita genteTem disto grande canceira.
35.
Vejo o Leão, e a SerpenteAtraz da gente goleima,Grita o gallo que ateimaCom o Lobo que tem diante.
36.
Já vejo grande mofinaNo porqueiro de Sequem,Que o gado todo está bemCom o Ovilheiro de Dina.
37.
Vejo a Lua ensanguentadaPella virtude do Encuberto,Se està longe, ou se pertoAssim o diz a toada.
38.
Là vem por sima do márHum Cavallo de madeira,Que farà n'huma poeiraO porco que hàde grunhar.
39.
Vijo pedras ajuntarLà muito perto da LuaVejo subir de huma, e humaE nellas o Sol entrar.
40.
Vejo pello meo TelhadoNo Ceo grande resplendor,Se hé alegria, ou temerEsdras o tem declarádo.
41.
Vejo o Almocreve tomarAs Alamanhas antigas,Vejo nascer das ortigasA remente là do mar
42.
Là donde o Sol vem nascendoHum Dragaõ vejo vir vindo,A seo Cabo vem correndoMais bichos que o vem seguindo.
43.
O primeiro depois do quintoFilho d'Aguia levantada,Hade estender sua EspàdaSobre a Galia faminto.
44.
Vejo sahir as GaivotasDe dentro do nosso Tejo,Taõbem parece que vejoAs duas por ellas rotas.
45.
Sonho que rebentaõ fontesDa terra da Promiçaõ,E que os Gallos de SiaõVaõ fugindo até os montes.
46.
Naõ canta o Gallo com pennaAs aguias charão mofina,A serpente encrespa a clinaPorque Deos assim o ordenna.
47.
Faremos dos dias noitesVivendo como agrestes,Haverà castigo, e açoutesCada hum se faça prestes.
Fim da quinta parte.
Sexta parte das Trovas de Bandarra.
1.
Sonhei que via hum fumo,Com grande força sahir,E deixando de Subir,Hum altar vi no escuro:Formava taõ forte muro.Que estava o Altar cuberto;Vi a hostia naõ mui perto,Do tal Altar arredada:Huma cára sublimáda,Em ella vi por mais certo.
2.
Pareceme que crescia,Quem assim o figurava:Taõbem sonhei me pegava,Quem mulher me parecia:E que com voz me dezia,Anda ver a terra nova,Pella maõ levou-me à cova,Levava bello vestido,Aí nuvems eu fui subido,Onde vi a gente toda.
3.
Negra, e amolatáda,Logo à terra baldeando,A respiraçaõ faltandoEu daqui já naõ quis nada,Para a terra de pancadaMe trouxe a tal mulher,Athé alcancei dizerVou segunda vez à terra,Logo vinha resta eraE tornava a aparecer.
4.
Parecia a meo verNova Igreja figurada,Por hereges desterráda,Na quella terra a tremer,Quem Herege quizer serFicarà negro, ou molato,E terà todo o máo tratoPor fugir da boa Ley,No Inferno sua greyPara tràz darà o Salto.
5.
Taõbem sonhei que a nuvemCobria a gram redondeza,Mui medonha, e espeçaTaõbem raios que destroem,A quem a falça Ley tem,E depois vi aclararCom hum claraõ singular,Em dia de huma SenhoraEm fe seguinte boa horaSeu nascimento sempár.
6.
Em sonhos vi grande armádaE a Lua, em rosso Tejo,Ficandolhe o Sol por baixoDe huma Torre armáda,Moiros tiveraõ entrádaPella terra de christaõs,Na Igreja vi estes máosHum exercito Francez,Taõbem entrou desta vezAccompanhádo dos Máos.
7.
Pella terra veio entrandoAthé se perder de vista,Com grande préça, e cobiçaToda a vinhaõ derrotando,Taõbem os Moiros chegandoCom grande astucia, e préça,Vinhaõ buscando a CabeçaA numa Cidade RealPouco cuida Portugal,Em o mal que lhe aconteça.
8.
Parece que estou ouvindoNesse mar a gran tormentaAntes que chegue os Setenta,Caxas, Ballas, barberinhosEntaõ hé que virà vindoO Grande pastor Geral,Acudir a taõ graõ mal,Dando às Ovelhas sustentoE taõbem o SacramentoViva o nosso Portugal.
9.
Poucos tempos paçaraõSegundo as Profecias,Em os Sinaes destes diasOutros que cedo viraõHuma Gran tribulaçaõ,Mas ao depois veràA volta que tudo dà,Chegando logo a vencerNo mundo todo o poderNa Igreja ficarà.
10.
Em todas reste tuidaCom maior veneraçaõ,Só nella tem o Christaõ,Gloria na eterna vidaMas ai que a vejo cahidaQue primeiro vem chegandoOs boms largando o mundo,Outros morrendo à preçaOutros perdem a Cabeça,Muitos disso vão folgando.
11.
Tanto Sangue pello campoE tanto morrer na rua,Tantos deixaõ vida suaPor guardar o nome Santo,Nem da mulher o mantoTerà respeito ou favor,Jà nenhum lhe tem amorA essa profanna vaidade,Quando virem a CidadePosta no maior horror.
12.
Jà de França serà fartoQuem à França quiz andarNunca mais andem trajar,Tomàra naõ ter o fato:Paga o povo por ingratoO desprezo que tem feito,Da Patria do minho aceitoDando rédias ao profannoTeraõ o seo desenganno,Com o Vestir mais perfeito.
13.
Com Sangue, Boubo, e DeshonraCom mortes, e Vitupérios,Fomes doenças, e Guerras,Querendo acabar a terraCom mui grande alarido,Todos ficaraõ com sentidoCom o mal naõ esperadoSerà prezo o DiaboPorque entaõ tudo hé acabádoE o morto serà vivo.
14.
Era taõbem logo chegaQue a todos de asento,Serà fim este tormento,Quem com bonança navégaEntaõ armáda mais féra,Livranos do Inemigo,Com bom valor, e abrigoO Beato Saõ JoaõEm seo dia nos dà a maõ,E o Incoberto vivo.
15.
Quem destruir os do NorteE os Moiros deitar fora,Matandolhe a gente todaEm Cacilhas forà côrteLá vereis o estandarteCom as quinas aconadoE emtaõ vereis mostràdoEm sima o bom Jezus,E taõbem a Santa CruzPara vencer o Diabo.
16.
Veremos o mar vermelhoSem hir a Jerusalem,A qui veraõ os que temTomádo o meo concelho,Em si proprio o espelho,Muito Sangue em si correndoMas quem fôr obedecendo,Passarà sobre o marSem que precize nadar,Verà o maior portento.
17.
Em Cassilhas a BandeiraCom estandarte Real,Logo Hereges por seo mal,A morte tem de CarreiraTerà este na SimeiraHum Christo crucificádo,Verà o povo malvadoO quaõ cego tem vivido,Em terem perceguidoE a muitos marterizádo.
18.
O Moiro, Turco, FrancezNaõ poderaõ fugir todos,Porque muitos seraõ mortosAs maõs do bom portuguez,Là levarão desta vezNovas aos seus que contar,Quando virem em PortugalO Encuberto declarado,Castigando todo o estragoQue elles vieraõ cauzar.
19.
Nenhum remedio lhe sintoO Naõ vireá melhor fôra,Venha sem em boa horaQuem ao lobo faminto,Lhe ponha em sangue tintoPor essas ruàs no chaõ,Bandeiras em confucaõFlores, Barretes, e CapasDeste bom Rey nada escapa,Viva o Graõ Sebastaõ.
20.
Sonhei que via vencerAs quatro partes do mundo,E que Portugal a tudoHia dando que fazer,E taõbem fazendo e verO Evangelho, e a CruzAo povo falto de luz,Sacramento eterno diaTaobem a Virgem MariaTodos com o bom Jezus.
21.
Sonhei que o SacramentoEm todo o mundo em redondo,Já das almas serà donoIsto maior portento,Taõbem graõ contentamento,Em ver os Reys me cauzouQue na geraçaõ dotou,Lá de Affonço o primeiroThé trinta o derradeiro,Onde o primeiro acabou.
22.
Por humgrande oppozitorDepois da linha acabada,Este farà derrotada,A Igreja com horror,Á besta mete pavorEm trez, e meio de duraTanta gente à Sepultura,O Martir gloríozoPor fugir do tenebrozo,A seguir a Virgem pura.
23.
Por mil, e duzentos annosA Igreja reinarà,Jà todo o Christaõ seràVivendo como irmaõs,Nem trapaças nem enganosDebaixo de huma cabeça,No seo Império, e pastor,Por Sebastiaõ SenhorA quem tudo obedeçaCom Zelo, e grande amor.
24.
Este Rey de Deos guardadoPara limpeza do mundo,De tal sorte porà tudoQue deos seja venerado,Em Portugal exaltàdoDe pequeno graõ Senhor,Os mais todos com PavorLogo o haõde coroar,Por Imperador sempárAo depois do Creador.
25.
Sonhei que via descerHum Anjo em huma nuvemMostrando que jà destroeQuem Herege quizer ser,Daqui vem a entenderPella voz que lhe ouviE com furor disse assim,"Morra o Blasfemador"De Ley do bom Redemptor,"O Prencipio desde aqui.
26.
Taõbem a Lua correndoSonhei que a via virPor trez vezes a cahir,E Portugal perecendoA isto o que eu entendoQue figura muito moiro,Vindo a buscar o oiro,E mais riqueza notoriaFazendo perder a gloria,A quem delle fez thezoiro.
27.
Quantos destes vaõ roubandoAì quando virem chegar,Muitas Náos em este marE gente em terra botandoEntaõ ouviraõ o bando,Mata, fere, e degolla,Ficando a gente tollaTao tolla, como pasmàdaE a terra derrotádaPerceguida a toda a hora.
28.
Morem, e ficaõ Catholicos,Hums morrem, outros pelejaõOutros depreça despejaõ,O melhor que guardaõ vivos,Jà fallaõ Leaes amigosA imgratidaõ sobeja,E algums comgrande inveja,Sò cuidaõ em bem furtar,Nenhum yuer a tuvarO Mal que tanto sobeja.
29.
Nenhum vemidio se senteSem ter meio de ApellarNem na terra, nem no Mar,Vendo prêza maior genteO mais alto delinquente,Naõ ficarà sem castigoQuem muito prende taobemSerà prezo, e cativo,Pezarlhe há de ser vivoEstando só sem nímguem.
30.
Nas armas pèga a mulherTaõbem entra em Corcelho,Entao acode o bom ValhoSebastiaõ hàde ser,E tudo em seo poderFicarà com graõ limpezaOu Magestade, AltezaBem livras do CativeiroLobo se torna, em CordeiroEm paga da tal Fineza.
31.
Contra graõ Senhor se ergueCom furia, Asturia, e Manha,Esparta, forte, Companha,De seo maior mal lhe serve,Taõbem quem ajuda perdeHonra, fazenda, e Vida,Depois de no mar vencidaE na terra maio é risco,Sepultádo no abismoDe todo serà perdida.
32.
Perde Braga, vence o PortoE todas seraõ entràdas,Em o fogo das pancadasEm Bahia grar dectroço,De Lagos fica bem poucoLisboa já hé Senhora,De cativa deffençoraDa Ley que haõde guardar,Os que se querem salvarE morrer em boa hora.
33.
Viva o grande PortugalTodos saltaõ de contentes,Mulheres com seos parentesFicaõ livres do graõ mal,Veja agora cada qualDe que sorte poem a vida,No levantar da cahidaTem o vemido na maõ,Quem cuidar em bom ChristaõSua alma serà subida.
34.
E todo o mundo sugeitoA esta naçaõ portugueza,Por aquella grande AltezaQue Christo tem em seo peito,Por lhe ser o mais aceitoNa Fé, Constancia, e Valor,Peregrimo, e SenhorGram trabalhos padecendo,Em fortaleza padecendoEm o mundo grão valor.
35.
Em humildade, e esperançaA maior que jà se vio,Com caridade subioAo lugar que logo alcança,Justiça com temperançaNa prudencia o primeiro,No castigo o derradeiroEsperando a Sugeiçaõ,Logo chega o pagaõA ser Christaõ verdadeiro.
36.
Portugal fica mais nobreEm todo elle o poder,E taõbem se háde verFicar rico, o que foi pobre,Aquelle a quem a fé cobreFirme na Santa Igreja,Todos lhe teraõ inveja,Quando virem PortuguezesVencendo Turcos, Francezes,E Moiros, em graõ Peleja.
37.
Dois descendentes que trazDe grande Valor, e Brio,O Mais velho em SenhoriaPorá a guerra, em Paz,Veraõ todos o que fazDe boms na Santa Igreja,A força lhe tem invejaA Fortuna, e augmento,Farà pàrto o SacramentoOnde toda Christaõ seja.
38.
O Pastor mór cedo faltaSeo descendente reinando,E grande castigo dandoAos vezinhos de Malta,Quando Veneza se exaltaDe França hé Malográda,Cauzarà nesta pancádaEntre os seos naturaes,Seraõ os castigos taesQue toda seja arrazáda.
Fim da Sexta Parte.
tudo e nada: arquivo, escritos mais ou menos autobiograficos, fotos minhas e de outros.